Algumas práticas que
levariam a uma maior autonomia e compromisso dos estudantes, a um diálogo mais
profícuo entre os sujeitos da aprendizagem, à construção do conhecimento de
forma mais criativa e menos mecânica ainda continuam distanciadas do cotidiano
da maioria de nossas escolas. Ainda não incorporamos em nossa prática
cotidiana, por exemplo, a auto-avaliação do ensino (feita pelo professor) e
auto- avaliação da aprendizagem (feita pelo aluno). Na maioria das vezes,
quando esta é realizada, aparece de forma assistemática ou apenas em determinados
momentos do ano letivo, quase que separado do processo.
A auto- avaliação ainda
não se tornou um hábito em nossas salas de aula. Se é papel da escola formar
sujeitos autônomos, críticos, por que
ainda não incorporamos tal prática? Por que ainda insistimos em uma avaliação
que não favorece o aprendizado e que não está coerente com nosso discurso
atual? Por que insistimos em uma avaliação que coloca todo o processo nas mãos
do professor, eximindo assim o estudante de qualquer responsabilidade?
A Auto – avaliação ainda
não faz parte da cultura escolar brasileira. Entretanto, se quisermos ser
sujeitos autônomos, críticos, devemos ter consciência de que tal prática deve
ser incorporada ao cotidiano dos planejamentos dos professores, do currículo.
Ainda hoje, apesar de
nossos discursos pedagógicos terem avançado bastante, insistimos em uma
avaliação que não favorece o aprendizado, pois é concebida como algo que não se
constitui como parte do processo de aprendizagem, mas apenas como um momento de
verificação.
Em uma concepção de
educação cujo foco do processo de ensino e aprendizagem seja o professor, há coerência
com uma prática de avaliação cujos critérios e expectativas estejam somente a
cargo do professor. No entanto, orientar a avaliação para uma prática
formativa, contemplando a auto - avaliação, torna-se um pressuposto para
avançarmos em direção a uma necessária coerência com uma concepção mais atual
de ensino e aprendizagem.
Os processos de auto-
avaliação podem e devem ser individuais e de grupo. Não devem ficar restritos
apenas aos aspectos mais relativos a atitudes e valores. Os estudantes, em
todos os níveis de ensino, devem refletir sobre seus avanços não só relativos à
sua socialização, bem como sobre aqueles relativos às suas aprendizagens
específicas.
Ter clareza sobre o que
é esperado dele é o primeiro passo para que o estudante possa realizar sua auto
- avaliação. Como poderia saber se estou aprendendo o que deveria, da forma
como deveria, se não sei o que o que vou aprender? Todos nós, para podermos
fazer uma análise de nossos potenciais e necessidades, em primeiro lugar
devemos conhecer o que vamos aprender.
Isso, na escola, se
traduz em conhecer não só o programa de ensino do ciclo, etapa ou série, mas
principalmente, as expectativas dos professores, as nossas próprias, refletir
sobre por que frequentar a escola, sobre o que é mais importante aprender e
sobre aquilo que queremos conhecer.
Depois, para além
disso, é importante que o professor propicie uma prática constante de auto - avaliação
para os estudantes, que se torne uma rotina, incorporada ao planejamento, com
instrumentos elaborados para este fim e, especialmente, que os resultados obtidos
da auto - avaliação sejam utilizados, seja em conversas individuais, tarefas
orientadas ou exercícios de grupo. O processo de avaliação seja ou não auto -avaliação,
não se encerra com a aplicação de um instrumento e com a análise dos resultados
obtidos. Avaliar implica em tomar decisões para o futuro, a partir desses
resultados.
A auto – avaliação quando
realizada no grupo significa verificar e avaliar, no coletivo, se os propósitos
estabelecidos com o grupo significa verificar e avaliar, no coletivo, se os
propósitos estabelecidos com o grupo estão sendo contemplados.
Novamente, coloca-se a
situação do grupo ter conhecimento daquilo que é esperado dele, da construção
coletiva de metas e regras. A partir daí, pode-se então, fazer uma auto –
avaliação dos processos do grupo, seja em relação aos conhecimentos construídos
coletiva e individualmente.
A auto – avaliação deve
favorecer ao estudante a auto- reflexão
acerca de sua postura, suas atitudes individuais e no grupo, seu papel no
grupo, seus avanços, seus medos e conquistas. Deve-se ajudar na superação das
dificuldades de aprendizagem, naturais a todo e qualquer processo de aprender.
FONTE: FERNANDES,
Cláudia.Indagações sobre currículo: currículo e avaliação, 2008
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